[Resenha] Menina Má - William March

Título: Menina Má
Autor(a): William March
Editora: DarkSide Books
Páginas: 272
Ano de Publicação: 2016

Publicado originalmente em 1954, Menina Má se transformou quase imediatamente em um estrondoso sucesso. Polêmico, violento, assustador eram alguns adjetivos comuns para descrever o último e mais conhecido romance de William March. Os críticos britânicos consideraram o livro apavorantemente bom. Ernest Hemingway se declarou um fã. Em menos de um ano, Menina Má ganharia uma montagem nos palcos da Broadway e, em 1956, uma adaptação ao cinema indicada a quatro prêmios Oscar, incluindo o de melhor atriz para a menina Patty McComarck, que interpretou Rhoda Penmark. Rhoda, a pequena malvada do título, é uma linda garotinha de 8 anos de idade. Mas quem vê a carinha de anjo, não suspeita do que ela é capaz. Seria ela a responsável pela morte de um coleguinha da escola? A indiferença da menina faz com que sua mãe, Christine, comece a investigar sobre crimes e psicopatas. Aos poucos, Christine consegue desvendar segredos terríveis sobre sua filha, e sobre o seu próprio passado também. 

♥♥♥

Temáticas relacionadas ao universo da mente humana são para mim bastante interessantes, logo a premissa de Menina Má me atraiu facilmente. Psicopatia em crianças, na minha zona de conforto e conhecimento literário, não é comumente abordada e ler alguma coisa a respeito me fez refletir que esse transtorno pode ser mais comum do que imaginamos. Através de algumas pesquisas que fiz, a definição correta para denominar menores de dezoito anos, por não ter uma personalidade totalmente formada, é transtorno de conduta e não psicopatia infantil, há todo um cuidado quanto a distinção. Quando pensava em psicopatas, imediatamente me vinha a cabeça uma pessoa adulta, não conseguia automaticamente perceber que essa pessoa adulta, logicamente, já foi criança um dia. Acredito que este pensamento me ocorre porque criança naturalmente é para ser doce, ingênua e carinhosa. Menina Má deixa claro que nem sempre isso acontece e que há exceções à regra. 

Christine Penmark é uma jovem mulher que vive juntamente com a filha Rhoda, seu esposo trabalha distante e os dois se comunicam basicamente por meio de cartas. Ela é uma pessoa tranquila e querida pela vizinhança e sua filha é uma criança aparentemente adorável, educada e madura. Mas a garotinha de apenas 8 anos começa a apresentar desvios de comportamento que fogem à compreensão da mãe. Após um piquenique organizado pela escola em que Rhoda estuda, na qual uma tragédia acontece, a senhora Penmark começa a enxergar um lado da menina que ela não quer acreditar que possa existir.


A história é contada em terceira pessoa e descreve o dia a dia de uma mãe que aos poucos percebe que há alguma coisa de errado com sua filha. As atitudes, o comportamento distante e equilibrado da menina não condiz com a maneira de ser de outra criança. Por mais que indícios a levem a questionar sobre as possíveis ações de Rhoda, Christine não quer acreditar na possibilidade da filha está envolvida na morte de um garotinho. Os pensamentos que circundam a sua cabeça são conflitantes e a deixa confusa, aflita e inerte, muitas vezes esperamos alguma atitude por parte dela, porém, ao mesmo tempo compreendemos que ela é mãe e, acima de qualquer coisa, o amor materno fala mais alto. Estar na pele da senhora Penmark não é nada fácil, é delicado e doloroso, ela está praticamente sozinha, carrega toda sua dor, frustração e incertezas sem ter a quem recorrer, com quem desabafar, a única pessoa confiável e com quem poderia compartilhar seus anseios seria seu esposo, mas este se encontra distante.

Christine em busca de tentar compreender melhor o que está acontecendo, mergulha em pesquisas de casos noticiados sobre assassinatos um tanto peculiares e, à medida que se aprofunda em suas investigações, vai acabar se surpreendendo e descobrindo mais sobre ela mesma.

Menina Má me despertou inúmeras sensações, é difícil e complicado acreditar que uma criancinha possa ser desprovida de sentimentos, amor e inocência. Rhoda é uma garotinha que aparentemente tem essas características, no entanto ela vai muito além disso, sabe se comportar de acordo com a situação em que está inserida, é incrivelmente manipuladora, madura e equilibrada. No entanto, seu verdadeiro eu mostra-se quando ela deseja algo e faz o possível e o impossível, passa por cima de qualquer um para conseguir o que almeja. 

A narrativa é basicamente em terceira pessoa, foi uma escolha do autor que não me agradou muito, acredito que se os fatos fossem narrados em primeira pessoa pela personagem da Christine, a leitura teria sido mais envolvente e sensível, mas esta observação é mais uma questão pessoal, pois prefiro ter mais proximidade com os sentimentos dos personagens. Mas fica claro que não é a intenção do autor apelar para sentimentalismos e essa questão não prejudica em nada o desenvolvimento da história.   

No prólogo do livro é apresentado um breve resumo da vida do autor, o que achei interessante e oportuno. March teve uma vida complicada, passou por problemas familiares e sua vida afetiva pessoal é um tanto enigmática, ele sofreu com problemas psicológicos e chegou a passar algum tempo internado para se recuperar. Pessoas próximas ao autor relatam que há muito dele expresso em alguns personagens da trama. Menina Má foi sua obra de grande sucesso, mas o autor não teve muito tempo para presenciar o reconhecimento do seu livro.  

Um suspense psicológico que certamente vai agradar aos leitores que se interessam por assuntos relacionados a complexidade da mente humana, Menina Má nos faz levantar questionamentos sobre a origem da maldade e as implicações desse transtorno para os envolvidos e afetados de maneira geral.

2 comentários

  1. Oi Caline,
    Primeiramente adorei a resenha e saber sua opinião sobre esse livro. Eu tenho uma imensa vontade de lê-lo e fiquei intrigada com a relação da obra e o autor. Na verdade, nem sabia que esse livro era tão antigo, ao ler sua resenha fui pesquisar mais sobre o autor e achei bem interessante.

    Se você tem interesse nessas temáticas que circundam o universo da mente humana não deixe de conferir os Contos de Edgar Allan Poe- sério a escrita dele consegue ser intrigante, macabra, bela e reflexiva (tudo ao mesmo tempo haha).

    Dependendo da história também prefiro que seja em primeira pessoa, pois assim como você, acredito que aproxima mais a personagem de nós leitores. Sua resenha fez com que esse livro subisse muitos degraus para a lista de leitura <3

    Bjokas da Elo!
    http://cronicasdeeloise.blogspot.com.br/

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    1. Oi, Eloise!

      Fiquei muito feliz que tenha gostado da resenha e que tenha feito subir alguns degraus na sua listinha!!!

      Já faz um tempo que tenho vontade de ler alguma coisa do Poe, e agora com sua dica e descrição da escrita fiquei mais instigada ainda.

      Beijo :*

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