[Resenha] O Príncipe da Névoa - Carlos Ruiz Zafón

Título: O Príncipe da Névoa
Autor(a): Carlos Ruiz Zafón
Editora: Suma de Letras
Páginas: 184
Ano de Publicação: 2013

Em 1943, a família do jovem Max Carver muda para um vilarejo no litoral, por decisão do pai, um relojoeiro e inventor. Porém, a nova casa dos Carver está cercada de mistérios. Atrás do imóvel, Max descobre um jardim abandonado, contendo uma estranha estátua e símbolos desconhecidos. Os novos moradores se sentem cada vez mais ansiosos: a irmã de Max, Alicia, tem sonhos perturbadores, enquanto ao outra irmã, Irina, ouve vozes que sussurram para ela de um velho armário. Com a ajuda de Roland, um novo amigo, Max também descobre os restos de um barco que afundou há muitos anos, numa terrível tempestade. Todos a bordo morreram na ocasião, menos um homem - um engenheiro que construiu o farol no fim da praia. Enquanto os adolescentes exploram o naufrágio, investigam os mistérios e vivem um primeiro amor, um diabólico personagem surge na trama. Trata-se do Príncipe da Névoa, um ser capaz de conceder desejos a uma pessoa, ainda que, em troca, cobrasse um preço demasiadamente alto.

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Exatamente no dia em que Max Carver completa 13 anos, é surpreendido com uma notícia nada agradável – vai ser obrigado a deixar seu lar – a casa em que passou os últimos dez anos da sua vida, e consequentemente vai se distanciar também de seus amigos para se mudar com destino a um vilarejo, na costa, às margens da praia. Essa decisão foi tomada por seu pai, Maximilian Carver, com o intuito de afastar a família o mais longe possível dos rumores da guerra.

A nova residência dos Carver fica localizada a poucos metros da praia e possui uma vista magnífica do mar. A casa foi construída anos atrás pelos Fleischmann para passar o verão, mas após uma tragédia, o imóvel foi posto à venda.

Max, o protagonista da história, não faz ideia das grandes aventuras que lhe aguarda naquela pacata cidadezinha. Já nos arredores da casa, algo chama sua atenção e ao mesmo tempo o deixa bastante intrigado – o garoto descobre, imerso num bosque, um emblemático jardim de estátuas envolto em enigmáticos símbolos. Ele não consegue tirar da cabeça a estranheza e o medo que aquele jardim lhe causou e, a partir desse momento, é levado pela necessidade de saber o que tudo aquilo representa.

“As lembranças ruins perseguem você sem que precise carregá-las consigo” (p.36)


Ao lado do seu novo amigo, Roland, e da sua irmã mais velha, Max literalmente mergulha nos mistérios a serem desvendados. Um velho navio afundado é o pontapé inicial para que os três comecem a montar o quebra-cabeça. Repleto de antiguidades e símbolos, a embarcação fornece pistas cruciais para desvendar o enigma. Juntos vão atrás de respostas e, quem melhor para questionar, senão o único sobrevivente do naufrágio – o faroleiro do vilarejo. Em meio a aventura surge uma criatura mística e sobrenatural com o poder de modificar e alterar o destino de pessoas que cruza pelo seu caminho.            

Ao longo de um enredo bem construído, somos levados facilmente a querer desvendar o que está por traz de tantos acontecimentos perturbadores e descobrir qual a relação entre o jardim de estátuas e o navio afundado. Através de uma narrativa inteligível, Carlos Zafón tem a capacidade de envolver e adentrar o leitor na aventura vivida pelos personagens, nos fazendo sentir parte daquilo. Em determinados trechos levei alguns sustos, fui pega desprevenida, mas para os medrosos de plantão, a história não é de terror, é trabalhada no suspense mesmo. 

Os elementos para construção do enredo não têm algo inovador, mas nem por isso, a história perde seu brilho e essência. Quando iniciei a leitura imaginava que seria apenas uma história juvenil de suspense, mas para minha surpresa, foi muito mais além disso. Os personagens também são desenvolvidos e amadurecem, fica evidente como as experiências pelas quais passaram lhes trouxeram ensinamentos. É muito bonito ver a cumplicidade e o nascimento da amizade entre eles, bem como o poder que a amizade tem de unir e modificar pessoas; o laço fraterno se estreita e permite a aproximação de Max e Alicia, até então, distantes um do outro. E temos a oportunidade ainda de acompanhar a descoberta do primeiro amor, de uma forma tão pura e singela.

“.... Olhou para o poço sem fundo dos olhos de Alicia, que comtemplava a linha do horizonte como se esperasse encontrar todas as respostas para todas as perguntas, perguntas que nem ele nem ninguém poderia responder. De repente, em meio ao silêncio, se deu conta que sua filha tinha crescido e de que algum dia, não muito distante, tomaria um novo caminho em busca de suas próprias respostas”. (p. 176) 

O Príncipe da Névoa é um livro voltado para o público juvenil, mas como o próprio autor menciona, pode ser lido por pessoas com idade mais elevada: “Resolvi escrever um romance que teria gostado de ler quando tinha 13, 14 anos, mas que continuasse a me interessar também aos 23, 43 ou 83 anos”.

Recomendo a obra para quem procura uma leitura rapidinha e envolvente, cheia de aventura, mistérios e uma grande e encantadora história de amizade. 


A Trilogia da Névoa


O Príncipe da Névoa é o primeiro volume de uma série de romances juvenis, composta por O Palácio da Meia-noite, As luzes de Setembro e Marina. Apesar de ser uma série as histórias narradas são independentes.


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